11/04/2014

Lição na carpintaria

Certo dia, numa carpintaria muito conhecida, com boa reputação, onde se realizam grandes e belos trabalhos, houve uma assembleia de ferramentas. Esta assembleia aconteceu, porque havia pequenas quezílias entre ferramentas e por isso entendeu-se necessário esclarecer-se algumas coisas e sobretudo mitigar as diferenças e divergências que foram sendo criadas.

No sururu inicial, o martelo fez-se ouvir e assumiu-se como o presidente daquela assembleia. Postura altiva, um grande ego, o martelo assumiu uma posição de força e arrogância.

Eis que logo as restantes ferramentas exigiram que se calasse e retirasse, pois não estava a contribuir nada positivamente para a resolução dos problemas e fazia muito barulho. Incomodava toda a gente. Ele que tivesse paciência, mas o lugar dele não era aquele e por isso que ficasse sossegado.

Bom, assim sendo o martelo encheu-se de humildade e retirou-se. Mas ainda antes, fez uma exigência. Pediu que também fosse retirado daquela assembleia o parafuso. Pois segundo ele, o parafuso precisava sempre de dar muitas voltas antes de servir para alguma coisa. Por isso o martelo considerava-o pouco útil.

O parafuso, lá quietinho no seu canto, toma a palavra e diz: Muito bem, eu retiro-me. Mas não me retiro sem que a lixa também se retire.

Isto porque segundo o parafuso, a lixa era muito áspera. Tratava sempre os outros com muita aspereza e vivia em perante conflito e atritos com os outros à sua volta.

E nem o parafuso tinha acabado de falar, já a lixa tomara a palavra revoltada e disse que o metro também deveria de sair dali. Isto porque o metro passava a vida a medir os outros e pior do que isso, era sempre segundo as suas medidas. O metro achava-se perfeito.

Mas quem lhe dava esse direito, sobretudo de medir tanto os outros? Perguntou a lixa.

A determinado momento, o carpinteiro entra na oficina, vestiu o avental, pegou nuns pedaços de madeira, começou a trabalhar, usando as ferramentas necessárias e transformou aqueles pedaços de madeira num bonito móvel.

O carpinteiro, sentou-se a contemplar a sua obra. Pensou para si: ficou bonito!

Então despiu o avental, limpou-se um pouco da poeira da madeira nas suas roupas e num último olhar satisfeito, sorriu e foi embora.
Logo que saiu, as ferramentas voltaram ao burburinho da discussão sobre os defeitos e diferenças uns dos outros.

Mas no meio da discussão, o serrote tomou a palavra, calmamente, disse:

Meus amigos, peço a vossa atenção para um pormenor importante nesta nossa assembleia. O que se passou há pouco tempo, teve uma importância tão grande que vocês todos ainda não perceberam como deve de ser.
Ali, está um móvel bem acabado, simples e bonito. Como viram, o carpinteiro usou de muitas ferramentas para o construir. Bem sabemos que todos temos defeitos, alguns já o manifestaram até publicamente. Mas também temos virtudes. E o resultado das nossas virtudes está lai, representado naquele móvel.

Então, todos acabaram por compreender, entender e aceitar que o martelo era forte, que o parafuso era necessário para unir partes e dar-lhes resistência, que a lixa era importante para limar as asperezas e que o metro era fundamental para obter medidas correctas.

Fez-se silêncio na assembleia.

Aquela reflexão do serrote, fez com que as ferramentas se sentissem melhor, mais confiantes, úteis e com mais vontade de trabalharem juntas, pois só assim conseguiriam ajudar a realizar boas obras, que sozinhas seria completamente impossível.

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