28/11/2013

Olhando pela janela...

Dois homens, gravemente doentes, encontravam-se no mesmo quarto de um hospital. Durante o dia, iam conversando sobre as suas vidas e partilhando as suas experiências em conversas animadas. 
Um deles podia sentar-se na cama todos os dias, pelo menos durante uma hora, para o tratamento de drenagem do líquido nos seus pulmões. Como a cama dele se encontrava junto à única janela do quarto, ia partilhando com o outro aquilo que via durante aqueles momentos. A janela tinha vista sobre um belo jardim, com belas árvores frondosas e para um pequeno parque de recreio infantil, onde muitas crianças se divertiam alheias ao sofrimento vivido no edifício ao lado. No meio do jardim havia um lago, onde algumas vezes se viam patos e dois cisnes passeando sobre as águas. Um pequeno barco estava junto a uma margem como que aguardando os seus passageiros para desfrutarem daquele belo espaço. Lá ao fundo, via-se a silhueta da cidade onde a vida se fazia a grande velocidade e onde o tempo parecia não chegar para nada. 
O homem junto à janela ia descrevendo tudo com muito detalhe e pormenor, transmitindo bons momentos de felicidade ao outro que embora não se conseguisse movimentar, ia como que vendo e ouvindo tudo através da sua mente. Imaginando aquelas cenas belas como se de um bom filme se tratasse. O tempo foi passando e aquele momento era sempre muito valorizado e de grande felicidade para os dois homens restringidos àquele quarto de hospital.
Um dia, a enfermeira quando se aprontava a dar os banhos da manhã, encontrou o homem junto à janela já sem vida. A tristeza instalou-se naqueles corações, tanto dos médicos e enfermeiros, como do seu companheiro de quarto, pois durante todo o tempo que aquele homem permaneceu no hospital, fora sempre um pólo de alegria e felicidade para todos.
Logo que pareceu apropriado, o senhor que não estava junto à janela pediu que, se fosse possível, para ser colocado junto à janela para tentar ver as coisas tão maravilhosas que durante tanto tempo lhe foram contadas. Quando o homem foi mudado de lugar, percebeu que não havia nenhuma janela, somente uma parede branca e chamando a enfermeira perguntou-lhe como poderia o seu companheiro ver coisas tão belas se não havia ali nenhuma janela.
Eis que a enfermeira lhe disse que o homem era cego e talvez ele só o quisesse animar e alegrar, encorajando-o para ir enfrentando o dia-a-dia com mais força, fé e esperança.

Existe uma felicidade muito grande em fazer os outros felizes, apesar dos nossos próprios problemas e dificuldades. A dor partilhada, é somente uma divisão, mas a felicidade é duplicada. 
O hoje como momento, é uma dádiva de Deus, por isso é que é chamado de PRESENTE. 

19/11/2013

O céu da felicidade

Quando à minha volta, pouco interesse encontro no que vejo, viro o meu olhar para cima. Para o céu. Procuro talvez o sol que possa fazer brilhar a minha existência. Como o horizonte material da Terra tem os seus limites, talvez procure no céu a infinidade da sua imensurável dimensão, onde talvez encontre um plano maior de felicidade. O céu não tem limites, sempre se ouviu dizer. Mas se no céu julgamos felicidade, verdade é que, na sua imensidão é que a encontramos. 
Mas antes de mais, teremos de realizar e tomar consciência que é no ponto mais pequeno desse universo que essa mesma felicidade existe: em nós mesmos. 
Deslumbrar-se com a beleza de um céu azul, com um sol radioso a iluminá-lo com cores tão apaziguadoras, só pode ser visto através dos olhos de quem realmente procura ser feliz aliando-se à felicidade dos outros. A razão da nossa felicidade, está na proporção directa com a qual fazemos os outros felizes. Pois isolados, não somos realmente nada. 
Desejar, não é pecado. Não é apanágio de desilusão ou ilusão. Desejar, é parte fundamental da nossa condição humana e motor do nosso progresso pessoal. Mas quando não se atinge o que se deseja, cai-se numa espiral de tristeza e, por vezes de revolta interior, que não pode mais do que ser apaziguada pela paciência e resignação perante a nossa incapacidade (ou falta de vontade!) em mudar os acontecimentos da nossa vida.
O céu. A felicidade do céu que tanto perscrutamos, deve de estar onde estamos, no que somos e não não no que julgamos ser. Podemos enganar-nos, mas dificilmente enganamos o Universo. 
Olhar para o céu, alimenta a nossa sede de felicidade. Alimenta o desejo de estar onde julgamos estar a nossa felicidade. Mas, na verdade, saberemos realmente se será onde julgamos, que está a nossa felicidade? 
Quem pode responder a esta questão?

15/11/2013

A minha batalha contra...

"O tempo esbateu-se contra mim e tornou-se aparentemente limitado de repente. Sinto que o universo se virou contra mim, arrebatando-me os meus sonhos, ânsias de momentos de felicidade. Que terei feito eu? 
Algumas poucas vezes fiquei inundado de um sentimento de quase revolta contra o mundo. Seguimos a nossa existência segundo o nosso Carma. Eu sabia isso, mas acabava por julgar-me imune a essa lei suprema do universo. Talvez não tenha sido bom, mas sei que não fui mau. A vida trocou-me as voltas num pequeno momento que pareceu uma eternidade. Quando soube que uma doença grave tomou conta do meu corpo, iniciei uma viagem muito profunda ao mais íntimo do meu ser e da minha existência. Não pus nada em causa, mas senti a revolta de ter deixado de "viver" a partir daquele momento. 
Sentado à espera naquela sala pintada de branco com uma tira azul celeste, vi aproximar-se uma criança com uma boneca ao colo. Não tinha cabelo, aparentava um ar debilitado mas os seus olhos tinham um brilho diferente. Sentou-se ao meu lado e mantendo silêncio, olhou-me fixamente nos olhos com um ar de ternura. Não consegui dizer uma única palavra e uma lágrima teimava em mostrar-se nos meus olhos humedecidos. 
Sou a Andreia e tenho 11 anos, disse-me. Desviando o olhar para um desenho pintado na parede do corredor, disse: Sabes, não devias de te revoltar contra Deus ou contra o universo. O que estamos e vamos passar os dois, não é mais do que uma prova de resistência numa luta contra nós mesmos. Deus não tem culpa. Nós temos. Pois nós somos os donos dos nossos destinos. Estamos a aprender a viver... de novo. 
Fiquei surpreso com esta demonstração de resignação, de fé e clareza quanto ao nosso papel na vida demonstrado por esta criança. 
Voltando o seu olhar de novo para mim, perguntou-me se me podia abraçar. Anuí que sim e longamente partilhámos um abraço. 
Ela levantou-se, sorriu para mim e antes de se ir embora disse-me: O fardo pode ser pesado, mas nunca será superior à força, à coragem e à fé de quem o conseguir carregar com humildade e resignação.
Ao ver aquela criança partir, virei-me para dentro e meditei um pouco sobre aquele momento. Consegui perceber uma coisa muito simples...não devia de lutar contra nada nem contra ninguém, somente contra mim próprio. Somente deveria de continuar a procurar a felicidade...a minha felicidade. Assim se iniciou a minha batalha contra...

12/11/2013

Pedi e obtereis...

Desde muito cedo na sua existência que o Homem percebeu a sua reduzida capacidade e importância no amplo sistema universal, de tal forma que foi iniciando uma controversa forma de pedir, por vezes suplicar, favores divinos para atingir as suas aspirações, sejam elas de melhoramento interior ou questões materiais mais imediatas.
Solicitações de favores a entidades divinas, sejam elas num sistema religioso, ou para-religioso, politeísta ou monoteísta, foi sempre cartilha imperiosa na evolução humana, devido à inadaptabilidade do Homem em compreender e entender convenientemente o seu papel e condição no seu meio e de uma forma mais global, no universo.
Pedir não é errado e documentalmente vem referido na Bíblia como o caso de Jacó ao fugir para a Mesopotâmia exclamou: “Se Deus estiver comigo, se me proteger durante esta viagem, se me der pão para comer e roupa para vestir e se eu regressar em paz à casa de meu pai,… esta pedra… será para mim casa de Deus e pagarei o dízimo de tudo quanto me concederdes” (Gn 28, 20-22) e este exemplo é um dos inúmeros casos retratados. 
No entanto, é fundamental esclarecer alguns aspectos importantes quanto ao acto de pedir; O Homem não devia de pedir favores divinos com intuitos materialistas, mas sim no sentido do seu melhoramento interior e mais do que isso, ter maior consciência que Deus ajuda cada um de nós na medida do nosso esforço na busca do que precisamos dado que a Lei do Trabalho é a lei natural que induz o Homem a não se acomodar e continuar na senda do seu progresso decorrente do seu trabalho e busca pelo seu próprio aprimoramento. 
É fundamental desejar, mas mais do que isso, é fundamental crescer interiormente, no campo moral e intelectual. Obter por meio de facilidade sem o recurso às ferramentas próprias do trabalho e do merecimento, não é meta na qual Deus não ajuda o Homem.
Outro aspecto fundamental a ter em consideração é que pedir e prometer é por si um acto com alguma ingenuidade associado, dado que no campo do Bem e do Amor, nenhum favor é realizado com o intuito de obter retorno, pois todo o espírito de Bem ajuda sem pedir nada em troca. A única troca a ser feita, é amar a Deus e ao próximo como a si mesmo...    

05/11/2013

Contradições de uma vida

Quando o espírito não consegue seguir a corrente da vida que conduzimos, entramos num estado contraditório interior. Quando a visão que temos de nós próprios face aos outros, não encontra paralelo, nem se encontra em nenhum plano racional, caímos em nós mesmos enfraquecendo os alicerces de uma felicidade que julgávamos conquistada ou prestes a isso. 
A evolução do Homem, é um caminho solitário. Distanciando-se das massas, o Homem na sua senda evolutiva vai perdendo muito pelo caminho, para ganhar outras coisas mais importantes. As afeições comunentes do Homem pela parte visível e material da sua existência, transforma-o num pólo único de sofrimento interior, pelo qual nem sempre consegue desligar-se facilmente. As contradições de uma vida, são formas de consciencialização tomadas pelo Eu (self) que tomadas pelas linhas unidireccionais das visões materialistas, criam sofrimento, desânimo e ruptura consigo próprio e com o mundo. O resultado é um estado de infelicidade que muitas vezes se torna depressivo. Os desejos e a sua concretização, são os propulsores de muito da nossa existência. São a essência que nos retorna à vida da luta e vontade de evoluir, seja em que plano for. 
A reforma interior do indivíduo, é um dos aspectos chave que relativiza, inibe e desmaterializa os estados infelizes causados pelas contradições interiores adquiridas nas nossas vivências. Mas este processo não é fácil, pois carece de um trabalho profundo de compreensão própria, somente atingível por indivíduos que buscam a sua realização interior e não exterior. Esta vertente evolutiva, transforma o indivíduo lentamente e consequentemente isola-o, tornando assim o seu caminho solitário. 
A solidão da evolução é um preço elevado, que nem todos estão dispostos a aceitar e comungar, apesar de ser necessário e imprescindível. È por isso que tantos momentos de contradição encontramos e vivemos nas nossas vidas, pois simplesmente não queremos aceitar o que é tão óbvio: estamos aqui para evoluir, nada mais!

03/11/2013

Desdobramentos - O comboio

Vejo-me à noite no meio de uma linha de caminhos de ferro. A noite está muito escura e não se vislumbra nada à volta. Eis que vejo uma luz muito intensa que se move rapidamente na minha direcção. As pulsações começam a descontrolarem-se, o coração bate muito depressa. Cruzo os braços na frente da minha cara, como para me proteger, mas acabo por ser trucidado por um comboio. Vivo este momento 3 vezes seguidas, num grande momento de terror e com enorme sofrimento até que consigo ser levado daquele lugar, viajando a grande velocidade, como se estivesse a voar. Eis que me encontro num lugar escuro, nada se manifesta à minha volta. Passados alguns instantes, olho para baixo à minha esquerda e vejo um buraco que vai crescendo. O buraco é muito escuro e vejo coisas muito estranhas que vagueiam por ali, sinto dor, sofrimento, ouço gritos de agonia e sinto-me puxado para lá. À minha frente, vejo uma luz forte e intensa, uma luz que transmite muita paz. Alguém de lá me chama, oferecendo-me ajuda e apoio. Tento dirigir-me para lá, mas não consigo, sou fortemente puxado para aquele buraco negro de onde parecem sair pessoas negras com muito mau aspecto que parecem não estarem dispostas a desistir de mim. Vejo coisas negras a voar por cima de mim, como se me vigiassem e me quisessem apanhar. Sinto dor, muita dor. 
Desejo ir para aquela luz tranquilizadora, mas não consigo. A força que me puxa para baixo, para aquele buraco negro de dor, é demasiado forte. Não me consigo libertar.
Percebo a asneira que fiz. Pensava que a vida acabava com a morte do corpo. Pensava que suicidando-me, acabaria o meu sofrimento terreno onde vivia inundado com tantas dívidas. Aqueles 50.000,00€ eram um fardo demasiado grande para mim. No final, optei pelo suicídio, como forma de fazer desaparecer os meus problemas. Mas estava errado, tinha agora consciência disso. O pior de tudo para mim agora, é que não consigo ir para aquela luz branca, não consigo acompanhar aquele sujeito vestido de branco que dizia poder ajudar-me. 
Sou puxado fortemente para baixo...para aquele buraco negro, cheio de dor e muito sofrimento.

02/11/2013

Desdobramentos - O bon vivant

Comecei a sentir-me como se estivesse fora daquele lugar. Mantinha plena consciência de mim próprio, mas sentia-me a "viajar" para outro lugar, noutro tempo e noutro momento.
Lentamente, via uma sala de estar tipo biblioteca com centenas de livros, uma poltrona à esquerda, um piano de cauda à direita onde uma menina tocava uma melodia que não conseguia ouvir. Uma criança brincava junto à poltrona no chão. Notava-se que a casa era de uma família abastada e aristocrata.  
Na poltrona estava um senhor de meia idade, com barba farta, fumando charuto. Ao seu lado uma mesa de apoio, onde estava um cinzeiro e um copo com um líquido, eventualmente alcoólico. Ele estava feliz admirando ver as crianças, que julgo serem seus netos. Após alguns instantes, olha para mim e começa a contar-me as suas vivências daquele momento da sua vida. Ele sabia que já tinha "partido", mas não conseguia afastar-se da sua família que tanto adorava. Durante anos ali permanecia, no mesmo modo de vida abastada e de "bon vivant" que a vida terrena material lhe proporcionara. Dizia-me que na sua vida enquanto encarnado, nem tinha feito bem nem mal a ninguém, somente gostava de apreciar as boas coisas da vida. Sabia que tinha de partir, sair dali, mas não conseguia. Adorava ver a neta a tocar piano. Sentia-se preso ali...
Conversámos, disse-lhe que era hora de partir, deixar aquele lugar e quem sabe um dia poder lá voltar para visitar a sua família. Ele compreendeu e acedeu, pois sabia que já não pertencia mais aquele universo. 
Num ápice, como que puxados por uma força muito poderosa, fomos os dois levados para um outro lugar que se apresentava todo escuro, mas não se sentia receio. Passado alguns instantes, perguntei-lhe se via alguém à sua volta, ao que me respondeu que sim, um sujeito vestido de branco e que lhe parecia muito amigável. Disse-me que esse sujeito estava ali para o ajudar e para o acompanhar para outro lugar, onde iria continuar a "viver" e aprender mais sobre a verdadeira essência da vida. Ele estava admirado e voltando-se para mim disse que; sim, tenho de ir. Vou com este sujeito que me transmite muita paz e amor. Sinto-me bem acompanhado.
Despediu-se com um ultimo olhar e um sorriso e vi-os partirem em direcção ao que parecia uma porta de luz muito intensa. Eu não conseguia ver para lá dessa porta, somente vi alguns vultos que se se encontravam lá, como que esperando alguém.
Em poucos segundos, desapareceram para lá daquela luz e o ambiente voltou a ficar escuro como antes. 
Assim acabou esta minha conversa com um "bon vivant"...