02/11/2013

Desdobramentos - O bon vivant

Comecei a sentir-me como se estivesse fora daquele lugar. Mantinha plena consciência de mim próprio, mas sentia-me a "viajar" para outro lugar, noutro tempo e noutro momento.
Lentamente, via uma sala de estar tipo biblioteca com centenas de livros, uma poltrona à esquerda, um piano de cauda à direita onde uma menina tocava uma melodia que não conseguia ouvir. Uma criança brincava junto à poltrona no chão. Notava-se que a casa era de uma família abastada e aristocrata.  
Na poltrona estava um senhor de meia idade, com barba farta, fumando charuto. Ao seu lado uma mesa de apoio, onde estava um cinzeiro e um copo com um líquido, eventualmente alcoólico. Ele estava feliz admirando ver as crianças, que julgo serem seus netos. Após alguns instantes, olha para mim e começa a contar-me as suas vivências daquele momento da sua vida. Ele sabia que já tinha "partido", mas não conseguia afastar-se da sua família que tanto adorava. Durante anos ali permanecia, no mesmo modo de vida abastada e de "bon vivant" que a vida terrena material lhe proporcionara. Dizia-me que na sua vida enquanto encarnado, nem tinha feito bem nem mal a ninguém, somente gostava de apreciar as boas coisas da vida. Sabia que tinha de partir, sair dali, mas não conseguia. Adorava ver a neta a tocar piano. Sentia-se preso ali...
Conversámos, disse-lhe que era hora de partir, deixar aquele lugar e quem sabe um dia poder lá voltar para visitar a sua família. Ele compreendeu e acedeu, pois sabia que já não pertencia mais aquele universo. 
Num ápice, como que puxados por uma força muito poderosa, fomos os dois levados para um outro lugar que se apresentava todo escuro, mas não se sentia receio. Passado alguns instantes, perguntei-lhe se via alguém à sua volta, ao que me respondeu que sim, um sujeito vestido de branco e que lhe parecia muito amigável. Disse-me que esse sujeito estava ali para o ajudar e para o acompanhar para outro lugar, onde iria continuar a "viver" e aprender mais sobre a verdadeira essência da vida. Ele estava admirado e voltando-se para mim disse que; sim, tenho de ir. Vou com este sujeito que me transmite muita paz e amor. Sinto-me bem acompanhado.
Despediu-se com um ultimo olhar e um sorriso e vi-os partirem em direcção ao que parecia uma porta de luz muito intensa. Eu não conseguia ver para lá dessa porta, somente vi alguns vultos que se se encontravam lá, como que esperando alguém.
Em poucos segundos, desapareceram para lá daquela luz e o ambiente voltou a ficar escuro como antes. 
Assim acabou esta minha conversa com um "bon vivant"... 

Sem comentários:

Enviar um comentário