"O tempo esbateu-se contra mim e tornou-se aparentemente limitado de repente. Sinto que o universo se virou contra mim, arrebatando-me os meus sonhos, ânsias de momentos de felicidade. Que terei feito eu?
Algumas poucas vezes fiquei inundado de um sentimento de quase revolta contra o mundo. Seguimos a nossa existência segundo o nosso Carma. Eu sabia isso, mas acabava por julgar-me imune a essa lei suprema do universo. Talvez não tenha sido bom, mas sei que não fui mau. A vida trocou-me as voltas num pequeno momento que pareceu uma eternidade. Quando soube que uma doença grave tomou conta do meu corpo, iniciei uma viagem muito profunda ao mais íntimo do meu ser e da minha existência. Não pus nada em causa, mas senti a revolta de ter deixado de "viver" a partir daquele momento.
Sentado à espera naquela sala pintada de branco com uma tira azul celeste, vi aproximar-se uma criança com uma boneca ao colo. Não tinha cabelo, aparentava um ar debilitado mas os seus olhos tinham um brilho diferente. Sentou-se ao meu lado e mantendo silêncio, olhou-me fixamente nos olhos com um ar de ternura. Não consegui dizer uma única palavra e uma lágrima teimava em mostrar-se nos meus olhos humedecidos.
Sou a Andreia e tenho 11 anos, disse-me. Desviando o olhar para um desenho pintado na parede do corredor, disse: Sabes, não devias de te revoltar contra Deus ou contra o universo. O que estamos e vamos passar os dois, não é mais do que uma prova de resistência numa luta contra nós mesmos. Deus não tem culpa. Nós temos. Pois nós somos os donos dos nossos destinos. Estamos a aprender a viver... de novo.
Fiquei surpreso com esta demonstração de resignação, de fé e clareza quanto ao nosso papel na vida demonstrado por esta criança.
Voltando o seu olhar de novo para mim, perguntou-me se me podia abraçar. Anuí que sim e longamente partilhámos um abraço.
Ela levantou-se, sorriu para mim e antes de se ir embora disse-me: O fardo pode ser pesado, mas nunca será superior à força, à coragem e à fé de quem o conseguir carregar com humildade e resignação.
Ao ver aquela criança partir, virei-me para dentro e meditei um pouco sobre aquele momento. Consegui perceber uma coisa muito simples...não devia de lutar contra nada nem contra ninguém, somente contra mim próprio. Somente deveria de continuar a procurar a felicidade...a minha felicidade. Assim se iniciou a minha batalha contra...
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